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Atualizado: 01-12-2024 | Tempo de leitura: 4 minutos

Câncer de próstata: Nova droga reduz chance de doença progredir em até 46%

O momento em que uma pessoa é diagnosticada com câncer de próstata pode fazer toda a diferença para o desfecho da doença. Se o tumor for localizado e menos agressivo, as chances de ficar curado chegam a 95%. Agora, uma nova classe de medicamentos está sendo estudada como uma saída para o segundo câncer que mais mata homens no Brasil e um dos mais incidentes.

A Bahia foi um dos estados que participou do estudo Aranote, liderado pela Bayer e que avaliou o uso de uma nova droga no tratamento contra o câncer de próstata metástico: a darolutamida. A pesquisa contou com 17 centros participantes em todo o Brasil, sendo que o Instituto Ética, fundado pela Clínica AMO, em Salvador, foi um dos que recrutou o maior número de participantes, em conjunto com o Centro de Pesquisa Clínica da Liga Contra o Câncer, em Natal (RN).

"Só nós (do Brasil) colocamos 10% de todos os pacientes do estudo, sendo que tinha 129 estudos. O Brasil está despontando como um local de potencial enorme para recrutar. A pesquisa clínica eleva o padrão de cuidado para um patamar acima da assistência convencional", diz o médico oncologista Augusto Mota, presidente e diretor-executivo do Instituto Ética.

Os resultados mostraram que, quando combinada com a terapia de privação androgênica (ADT, na sigla em inglês), a doralutamida reduziu em até 46% o risco de progressão da doença ou mesmo de morte em decorrência dela. Os dados serão submetidos a autoridades globais de saúde ainda este ano, para que o uso da substância seja ampliado com este objetivo.

“Qual é a vantagem desse estudo? Ele traz um medicamento tão potente quanto os outros, mas muito melhor tolerado”, explica Mota. De acordo com ele, a nova molécula se torna atrativa porque o câncer de próstata costuma atingir mais idosos, que têm múltiplas doenças associadas. “Na hora que você toma um medicamento com baixíssimo efeito colateral, vira uma opção mais segura para os pacientes idosos. Ela não vai substituir as outras, mas entra como mais uma opção”, acrescenta.

Até outubro, a Bahia registrou 2.122 internações por câncer de próstata, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), com 1.144 mortes - pelo menos três mortes por dia em decorrência da doença. No ano passado, foram 3.103 casos, com 1.588 mortes, enquanto 3.142 internações foram registradas em 2022, com 1.500 óbitos.

Na Bahia, identificar o tumor logo tem um aspecto próprio. "A Bahia é um estado negro e nós sabemos que o câncer de próstata em negros tende a ser diagnosticado com a doença mais avançada. É uma doença mais agressiva, inclusive do ponto de vista histológico", alerta o médico.

A darolutamida é uma molécula que atua como inibidora do receptor de andrógeno oral com uma estrutura química que se liga, com alta afinidade, ao receptor androgênico. Ela acaba por bloquear a função ao receptor, já que tem uma atividade antagônica, e impede o crescimento das células cancerígenas. O remédio já é aprovado em pelo menos 85 países para o tratamento de câncer de próstata resistente à castração não metastático, mas que têm alto risco de desenvolver a metástase.

O que acontece é que, na fase inicial, o câncer de próstata é sensível à castração cirúrgica - ou seja, à retirada do tecido que produz a testosterona. De acordo com o oncologista, a testosterona é como uma espécie de querosene diante da fogueira, já que tem o potencial de estimular células tumorais a continuarem se dividindo.

“Na hora que ‘desligo’ a testosterona, consigo baixar 95%, 96% dela. Esses 4% ou 5% restantes, ainda que numa concentração muito pequena, continuam estimulando essas células tumorais. Esses medicamentos entram para neutralizar o vestígio de estimulação da testosterona”, diz, referindo-se a esse tratamento como ‘intensificado’.

É um remédio oral que já tinha comprovação de eficácia - e indicação - nas fases avançadas da doença. No Brasil, já é autorizada para tratar câncer de próstata que ainda responde ao tratamento para reduzir testosterona e também para aqueles em que isso já não é possível, mas que o tumor ainda não se espalhou. A novidade agora é que também está sendo considerada para as fases mais precoces.

“Existe a indicação de uso na doença metastática junto com injeção de hormônio e quimioterapia, que é a terapia tripla. E temos a doença metastática sem quimioterapia, que foi esse estudo".

A fase 3 do estudo foi de fevereiro de 2021 até agosto de 2022, mas os resultados foram divulgados agora. Ainda segundo o médico, os pacientes que participaram na Bahia estão bem - muitos estão com a doença controlada e PSA (o antígeno que indica a progressão do câncer de próstata) indetectável.

“Alguns já faleceram, porque o câncer de próstata é uma doença grave. Mas os que estão em uso estão bem, tolerando bem o tratamento. A idade média do estudo é alta. Eles tiveram uma mediana de idade de 70 anos, muitos bem doentes, com a doença avançada”.

Para o médico, o futuro do tratamento contra o câncer de próstata está “em franca evolução”, justamente pela introdução de novos medicamentos. “Por que o câncer de próstata é uma doença sempre relevante? Porque é o tumor mais comumente diagnosticado em homens, exceto o câncer de pele não melanoma. Estamos falando de milhares de pessoas e muitas mortes por câncer de próstata".

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