Orgasmo só para eles? 50% das mulheres brasileiras nunca chegaram lá
Apesar de ser um assunto cada vez mais comentado na web nos últimos anos, o prazer feminino ainda é um tabu para muitas mulheres. Segundo dados coletados pelaAssociação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Pessoal (ABEMSS), em 2023, mais de 50% das mulheres brasileiras nunca tiveram um orgasmo na vida.
O estudo ainda aponta que as taxas de orgasmo feminino são ainda menores entre mulheres heterossexuais e apenas 12% delas associam prazer ao sexo. A maioria relaciona o ato de prazer a outros sentimentos e atividades, tais como sentir-se desejada ou momentos de lazer, como viagens.
Ao portal A Tarde, uma jovem, que preferiu não ter sua identidade revelada, contou que a falta de orgasmo foi um fator primordial para o fim de seu relacionamento de três anos.
No relato, a moça revelou que não conseguia chegar ao clímax durante a penetração com o parceiro e chegou até a conversar com ele sobre o assunto. Nesse Dia dos Namorados, o casal não está mais junto.
“A penetração em si durava facilmente mais de 50 minutos. Eu expliquei para ele certa vez, lá no comecinho do namoro, que eu não gozava só desse jeito, porque se existia uma dificuldade dele me fazer gozar assim, porque eu não chegava lá, ele podia modificar as formas e a gente poderia comprar brinquedos. Nunca tive esse tabu”, disse.
Ela ainda contou que uma das únicas vezes que conseguiu sentir um orgasmo foi quando se masturbou durante a relação. “Na vez que eu mesma me masturbei, ele não gostou e falou: ‘Ah, pra quê você fez isso? Não tinha necessidade’”.
“Eu passei três anos nessa relação e a gente transava muito mesmo, cerca de quatro vezes ao dia, mas se eu transasse quatro vezes com ele no dia, nas quatro vezes eu fingia um orgasmo e foi muito difícil para mim”, completou.
O prazer como forma de punição - É importante ressaltar que o prazer feminino sempre foi um tabu na sociedade. Muitas mulheres foram ensinadas apenas a satisfazerem seus parceiros, chegando a fingir orgasmos durante as relações sexuais, ou que se masturbar é um ato sujo e errado.
Ainda segundo dados da ABEMSS, cerca de 40% das mulheres nunca tocaram o próprio corpo e mal conhecem os órgãos sexuais e reprodutivos que possuem. Algumas delas não sabem nem o que é o clitóris, o órgão responsável pelo prazer e orgasmo feminino, ou onde ele fica.
A ginecologista Tina Batalha apontou que a falta de conhecimento do próprio corpo e o tabu com a masturbação feminina contribuem para que estas mulheres nunca tenham chegado ao clímax na hora do sexo com seus parceiros.
“Quando a mulher conhece seu corpo, entende o que a excita, quais são as zonas mais sensíveis, o tipo de toque e de estímulo que funcionam para ela, o caminho até o orgasmo tende a ser mais direto. E é através da masturbação consciente — sem pressa, sem culpa, com curiosidade que vamos nos conhecendo. Não adianta querer que o parceiro (a) ajude a chegar lá se nem você mesmo sabe como fazer”, disse ela.
A especialista em Sexualidade e Terapia Pélvica, Paula Milena, também reforça que o autoconhecimento é de extrema importância na garantia do prazer. “Quando a gente fala de autoconhecimento não é só a masturbação na vulva, no caso das mulheres,. É importante conhecer o corpo”, refletiu.
“A gente precisa sair da caixinha e desse lugar de que sexo é vulva e pênis. Sexo é corpos e quando a gente fala corpos é o meu corpo inteiro com o seu corpo inteiro. Então, se eu quero potência sexual, eu preciso conhecer o meu corpo inteiro através de estímulo e de treinamento”, completou.
"A masturbação e o autoconhecimento são como um GPS, o caminho para uma potência de sexualidade boa".
Medo e vergonha - Outro fator determinante para garantir o orgasmo dentro de uma relação amorosa é a conversa direta com o parceiro, sem medo e vergonha, explicando o que deve ser feito e sugerindo alternativas para melhorar a relação.
Terapeuta sexual de casais, Paula Milena explica que o diálogo dentro das relações tem se tornado cada vez mais difícil. Para ela, é importante que o parceiro escute atentamente e tente atender as demandas de sua parceira de forma empática.
“O que eu vejo hoje é competição, ego, prepotência e arrogância. É uma disputa desnecessária que não vai para lugar nenhum e quando o assunto é sexo isso é triplicado. Porque não podemos conversar e encontrar equilíbrio quando os 'narizes' estão lá em cima”, explicou.
Tina Batalha também reforça que o diálogo deve vir carregado de sinceridade, porém com um toque de leveza. “O mais importante é que a abordagem seja afetiva, aberta e sem acusações. Falar sobre o que se gosta, o que desperta desejo, o que poderia ser experimentado com mais calma — tudo isso aprofunda a intimidade e torna o sexo mais prazeroso para ambos”, aconselhou.